primeiras estórias

há exatamente um ano, o post rituaizinhos foi escrito e o filosofinhas começou a passear por aí. como eu já expliquei aqui, o blog é uma expansão de histórias de momentos que eu passava com os meus alunos que, de início, eu contava no facebook para os meus amigos. a coisa começou a crescer e as histórias passaram, naturalmente, a exigir uma morada só delas.

na noite em que o ‘rituaizinhos’ foi escrito, eu prometi para mim mesma que, quando o blog fizesse um ano, eu recuperaria os primeiros posts de facebook que escrevi. estes posts se referiam exclusivamente à beatriz, que era minha aluna ano passado e segue sendo a criança mais incrível e engraçada do mundo. ela já apareceu por aqui váááárias vezes, [como aqui e aqui] . se você gosta do filosofinhas, agradeça à beatriz.

então, vamos aos primeiros posts sobre a bia. sintam que são posts absolutamente descritivos e que eu não comentava nada sobre as situações, simplesmente deixava o causo lá, endereçado aos bons entendedores:

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– pra onde você vai, teacher?

– pra colômbia.

– é perto do brasil?

– é, é pertinho, ó [apontando para a colômbia no globo].

– ahhhhh, é pertinho mesmo! eu nem vou precisar chorar de saudade!

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eu: então vocês acham que os índios não vão pra escola?
eles: NÃO!
eu: daí os índios não têm professores também?
eles: NÃO!
eu: e como vocês acham que eles aprendem?
bia: os animais ensinam as coisas pra eles! ❤ ❤ ❤

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no lanche, todos conversando sobre o tema “o pai do meu amigo chama ____”. a bia conta que o pai da amiga dela se chama josé. 20 minutos depois, lacrimejando, ela me chama no cantinho:

– teacher, eu tô mentindo…

– mentindo, bia? como assim?
– o pai da bárbara não chama josé, eu esqueci o nome deleeeeee! [e desata a chorar]
– ô meu amor, não tem problema! às vezes a gente esquece o nome dos pais dos nossos amigos, é normal. eu nem sei o nome do pai de todos os meus amigos…
– mas eu tô mentindo, meu nariz vai cresceeeeeer! [e se joga, aos prantos, no meu colo]
– não vai crescer, não, bia, prometo pra você. só no pinocchio o nariz cresce, o seu não vai crescer…
– ai, teacheeeer, desculpa que eu menti…
– ô, meu amor, não precisa pedir desculpa, não…

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bia conseguiu subir na árvore do playground sozinha pela primeira vez hoje:
TEACHER! EU CONSEGUI! OLHA, TEACHER! TEACHER, EU CONSIGO VER TUDO! ISSO AQUI É MARAVILHOSO! AI, TEACHER, NÃO ME DEIXA CAIR! OLHA O FELIPE LÁ! NOSSA, TEACHER, EU TÔ MUITO ANIMADA! EU TÔ MUITO FELIZ! NOSSA, QUE LINDO! TEACHER, CONTA PRA MINHA MÃE? UAU, QUE LINDO! EU VEJO OS PRÉDIOS! OLHA ESSA FOLHA, QUE LINDA!

(momento de contemplação)

teacher, como desce?!

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– como foi sua viagem, bia?

– você sentiu saudade de mim?

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disputa de brinquedo, bia bate na marina, marina chora, bia cuida da marina, marina supera, roda de conversa sobre o bater, “quem sabe tentando falar com a marina ou chamando a professora você consegue resolver os problemas de outro jeito, né bia?”

bia: tá bom. na próxima eu tento esse ESQUEMA aí que você tá falando.
eu: obrigada, beatriz.

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hoje a bia conseguiu:

1. brigar com a marina e a rafaela;
2. brigar com o miguel e a teacher lymda;
3. derrubar o copo de água da aquarela na própria pintura;
4. arrancar uma das nossas flores com raiz e tudo porque ela achava que ia encontrar uma cenoura embaixo da terra (♥);
5. cair e bater a perninha no parque.

ao fim do dia, dei um abração nela e falei: “às vezes a gente tem uns dias bem ruins, né bia?”

ela me ouviu e concordou. eu me ouvi e concordei também.

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no início do ano, a bia não se dedicava nem cinco minutos a um desenho. fazia qualquer coisa e fim, cabou, próxima atividade, prfv. lutamos.

hoje, treinando por cartão de dia dos pais que eles vão fazer, ela fez SEIS retratos do pai, não ficou plenamente satisfeita e disse que amanhã vai fazer um ainda “maaaais lindo”.

fiz alguma coisa certa nessa vida sim ou com certeza?

nota do editor: meia-hora depois, iniciou-se uma sequência de pequenos desastres cotidianos que incluiu chorar porque o lanche não tava bom, brigar com a rafaela, brigar com TODO MUNDO no parque, não participar de metade da aula de música, abrir o tubinho de m&m’s que a rafaela deu pra ela e que eu tinha pedido TROCENTAS vezes pra ela abrir em casa, derrubar metade dos m&m’s no chão, chorar porque derrubou os m&m’s, comer parte dos m&m’s do chão, reclamar que não ia almoçar na escola, se acostumar com a ideia de que não ia almoçar na escola, reclamar quando descobrimos que sim, ela ia almoçar na escola, chorar porque não queria a cenoura no prato. enfim. só mais um dia da vida com a bia.

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– bia, guarda a massinha pra gente, por favor?

– aham.

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– bia, você pode voltar aqui um minuto por favor?

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viva o filosofinhas! viva a bia!

* os nomes das crianças são fictícios e o nome e localização da escola jamais são mencionados neste blog por questões de proteção à intimidade.

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